Quem são os eleitores que não votaram no 1º turno e agora são foco das campanhas

Quem são os eleitores que não votaram no 1º turno e agora são foco das campanhas
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Entre os 32 milhões que não votaram no último dia 2 estão eleitores desiludidos com a política, trabalhadores que não foram dispensados e moradores de regiões sem transporte. Essas foram as principais causas do maior índice de abstenção desde 1998, de 20,9%. Em Maraã, no Amazonas, e Rio Vermelho, Minas Gerais, a taxa chegou a 40%. A maioria dos eleitores que deixaram de votar está em cidades onde Lula teve, proporcionalmente, mais votos que Bolsonaro. Pra especialistas, quem conquistar o eleitor que ficou de fora do primeiro turno poderá sair vitorioso.
Maraã fica no interior do Amazonas, a 630 quilômetros de Manaus. A pequena cidade de 18 mil habitantes está localizada à beira do Rio Japurá, por isso, a maioria precisa de um barco pra se deslocar. Esse foi o meio de transporte que muita gente usou no último dia 2 pra votar numa das 24 seções eleitorais do município. Diante da dificuldade, 39% dos pouco mais de 10 mil eleitores de Maraã não foram às urnas no primeiro turno dessa eleição.
Mas a Gabrini de Farias tem outra teoria que também pode explicar o alto índice de abstenção, um dos maiores do país. A estudante de 24 anos mora em Maraã desde que nasceu e diz que, na cidade, além da questão do transporte, muita gente está desiludida com a política. A sensação, pra ela, é de abandono.
‘Um cidadão que mora nas partes ribeirinhas do Amazonas não tem estas condições todas, nem tem um bom acesso como as pessoas da área urbana. A dficuldade de deslocamento é muito grande. [Os políticos] vinham ao município só de 4 em 4 anos. Só de 4 em 4 anos [a população] olhava a cara dos políticos. Por estes motivos, por terem nos abandonado na época da pandemia, em que ficamos à mercê’.
Em Rio Vermelho, Minas Gerais, a abstenção foi ainda maior. Superou os 40%. Isso significa que 3 MIL 990 pessoas não votaram no primeiro turno. Em todo país, mais de 32 milhões de brasileiros não foram às urnas em 2 de outubro. Esse ano, a taxa nacional de abstenção foi de 20,9%, a mais alta desde 1998. Quase a metade dos eleitores que não votaram é da região Sudeste. Juntos, os quatro estados tiveram mais de 14 milhões e meio de pessoas fora do pleito.
Proporcionalmente, o Rio de Janeiro foi o terceiro estado com a maior taxa de abstenção esse ano, 22,74%, atrás apenas de Rondônia, com 24,65%, e Mato Grosso, onde 23,38% não votaram. A Jaqueline de Oliveira estava trabalhando quando mais de 123 milhões de brasileiros foram às urnas no primeiro turno. Ela não conseguiu sair a tempo da Baixada Fluminense pra votar na Zona Norte do Rio. Mas também nem fez muita questão disso.
‘Eu fui trabalhar no domingo. Eu trabalhei na Baixada e não deu tempo de sair do meu trabalho para votar. E também estou muito decepcionada com as eleições deste ano. Eu nem fiz tanto esforço para ir, nem fiz questão de me mobilizar para votar’.
Já o Geraldo Trindade faltou pela primeira vez. Por questões de saúde, ele não conseguiu sair de Contagem, na região Metropolitana de Belo Horizonte, pra ir votar na capital. O aposentado planeja participar do segundo turno, mas quer ver uma campanha com mais propostas.
‘Faço, agora, 66 anos e é a primeira vez que justifiquei o voto. Eu estou em fase de recuperação, porque fiz uma ponte de safena, e não posso mais caminhar sozinho. Preciso sempre de uma companhia. Mas já estou me programando para o 2º turno. As propostas dos candidatos estão muito fracas, por enquanto. Estão mais preocupados em usar um ao outro do que em apresentar um plano de governo’.
A Jaqueline e o Geraldo ilustram perfis de eleitores que, historicamente, costumam abrir mão do voto, como explica o pesquisador em Ciência Política da Unicamp Otávio Catelano.
‘Podemos atribuir o maior número de abstenções a coisas como dificuldade de locomoção, pessoas que precisavam gerar rendas nesse dia, com trabalhos informais, e acabam nos últimos lugares de prioridades, e tantas outras com relação à desinformação. Podemos dizer que a abstenção é uma forma de voto. Muitas pessoas não se sentiram impelidas a votar porque não se sentiram representadas pela política, pela política eleitoral, pelos candidatos ofertados pelo sistema partidário’
Esse é o caso da contadora Viviane Rodrigues. Ela diz que está tão desacreditada e preocupada com a tensão política que esqueceu a data da votação, mesmo com a mãe concorrendo a deputada.
‘Eu simplesmente marquei uma viagem, esqueci, não me liguei que era fim de semana da eleição. acabei tendo que justificar o voto. e, de qualquer forma, eu já estou muito desacreditada da política, dos políticos do Brasil. Famílias estão se desfazendo, amigos brigando, parando de se falar. Não quero me meter nessa briga. Também não quero ter a responsabilidade de me arrepender de votar em um lado’
Além de questões pessoais e políticas, muitos eleitores ficaram confusos com mudanças de seção e precisaram enfrentar longas filas. A espera fez o economista baiano José Marcelo Araújo desistir.
‘Fui para a escola, normal, aqui perto de casa, onde eu voto, e a fila estava muito grande, muito grande mesmo. E não parava de chegar preferencial. Chegou uma hora que eu já estava havia uma hora na fila, estava um calor insuportável, um sol quente do lado de fora. Meu voto ou não não faria diferença, aí eu decidi não votar’
Mas também teve cidade que contou com grande participação. Em Nova Candelária, no Rio Grande do Sul, a abstenção foi de apenas 9%. Em Jardinópolis, Santa Catarina, só 161 pessoas deixaram de votar – pouco mais de 10% do eleitorado. Pro jornalista Idiomar Tessaro, que mora em Jardinópolis, a população se engajou porque a eleição pra prefeito, em 2020, deu empate, e o candidato mais velho acabou eleito.
‘Isso fez com que, no processo eleitoral de 2022, os cabos eleitorais se envolvessem e trabalhassem com bastante ímpeto para fazer bastante voto para os seus candidatos a deputados estaduais e federais. Essa força que fez eles trabalhassem bastante e foi o resultado do empate que mobilizou bastante as pessoas a irem às urnas’
Um cruzamento de dados dessas cidades com índices do IBGE indica que o comparecimento é influenciado pelo desenvolvimento socioeconômico. Em Jardinópolis, a população ocupada é de 20% e, em Nova Candelária, de 40%. Já em Rio Vermelho, a ocupação fica em 8%. O índice de Maraã é ainda menor, de 4,3%. Além disso, as taxas de escolaridade das cidades do Sul são mais altas.
Especialistas apontam que é difícil prever qual candidato sai mais prejudicado com a abstenção. No entanto, dados da Justiça Eleitoral apontam que houve mais ausências nos lugares em que Lula foi o mais votado. Ele levou 67% dos votos em Rio Vermelho e 70% em Maraã. Por outro lado, Jair Bolsonaro recebeu 55% dos votos de Jardinópolis e 59% em Nova Candelária.
CBN


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djaildo

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