NÚMERO DE HOMICÍDIOS DE 2020 NO RN JÁ É MAIOR QUE EM 2019

NÚMERO DE HOMICÍDIOS DE 2020 NO RN JÁ É MAIOR QUE EM 2019
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Para algumas coisas, o isolamento social provocado pela pandemia do novo coronavírus não serviu para nada. Exemplo é a violência. Poderia ter colaborado para a redução das chamadas condutas violentas letais intencionais (CVLIs)? Sim, mas não ajudou. Em 2019, de 1º de janeiro a 27 de agosto, 968 pessoas foram mortas no Rio Grande do Norte. Já este ano — considerado atípico em razão da doença — 983 já foram vítimas da violência. E olha que ainda faltam 4 meses inteiros e quatro dias para 2020 acabar.

Os dados de CVLIs são da Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN) e Rede e Instituto de Pesquisa Observatório da Violência (OBVIO), além da Coordenadoria de Informações Estatísticas e Análise Criminal (Coine) da Secretaria Estadual da Segurança Pública e da Defesa Social (Sesed), e revelam que os homicídios dolosos (quando há a intenção de matar) e os casos de latrocínio (roubo seguido de morte) foram os que mais aumentaram: + 9,18% e + 7,14%, respectivamente. Para os demais casos, houve redução. São eles: lesão corporal seguida de morte, – 46,67%; intervenção policial, – 10,43%; e feminicídios, – 41,18%.

Regiões

Com relação às regiões do estado, Oeste e Agreste foram as que registraram maior aumento de mortes, com crescimento de 15,16% e 3,3% respectivamente. Já nas regiões Central e Leste houve queda: – 7,41 e – 4,9% respectivamente.

Mais homens, menos mulheres

Os dados da Coine também mostram que os homens continuam no topo da violência. No período de 1º de janeiro e 27 de agosto, mais homens morreram este ano que no ano passado. Em números absolutos, foram 898 pessoas do sexo masculino mortas em 2019 contra 920 em 2020 — um crescimento de 2,45%. Já as mortes envolvendo mulheres, caíram 12,86%. Em números absolutos, foram 70 mulheres mortas em 2019 contra 61 pessoas do sexo feminino assassinadas este ano.

“O crime organizado atua como uma atividade comercial que precisa se manter gerando lucro”

O coordenador da Coine, Ivenio Hermes disse, em estudo publicado pelo OBVIO, atribui o aumento dos números de CVLIs à adaptação da dinâmica criminal aos tempos de pandemia, ou seja, o crime organizado atua como uma atividade comercial que precisa se manter gerando lucro, e diante de quaisquer dificuldades, buscam migrar suas ações para outros territórios e outras atividades ilícitas.

“No primeiro caso, ao migrar de territórios, os criminosos entram em disputa com outros grupos e até com a polícia, aumentando os números de casos de homicídios dolosos e mortes resultantes das intervenções policiais. No segundo caso, ampliam o leque de ilicitudes para além do tráfico de drogas ilícitas e de armas para o contrabando de cigarros, roubo de mercadorias, para a negociação com veículos e cargas roubadas, e outras, que são crimes que alimentam e retroalimentam a cadeia constante de assassinatos”, destacou Ivenio.

Atlas da Violência coloca o RN como 2º estado do país com maior número de jovens assassinados

O Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea) e o Fórum Brasileiro de Segurança Pública divulgaram nesta quinta-feira 27 o Atlas da Violência — com dados que mostram a evolução da violência entre os anos de 2008 e 2018. No último ano do levantamento, segundo o estudo, o Rio Grande do Norte apresentava uma taxa de 52,5 mortes para cada grupo de 100 mil habitantes (1.825 homicídios), sendo o terceiro estado mais violentos do país — atrás apenas do Ceará, com taxa de 54,0 e o Pará, com taxa de 53,2.

Com relação a jovens assassinados, grupo etário de pessoas entre 15 e 29, o Rio Grande do Norte pontuou ainda mais negativamente, ficando na segunda posição, com taxa de 119,3 jovens mortos para cada grupo de 100 mil habitantes. O pior foi Roraima, com taxa de 142,5. A média do país foi de 60,4.

O Rio Grande do Norte também se destacou negativamente na taxa de Mortes Violentas com Causa Indeterminada (MVCI). Neste caso, quando analisados a taxa de MVCI por 100 mil habitantes em 2018, dez estados figuraram na lista com índices acima de 5 por 100 mil habitantes – o que aponta para uma situação preocupante em termos da qualidade dos dados nessas localidades. São eles: Roraima (11,3), Bahia (10,6), São Paulo (9,4), Pernambuco (8,6), Rio de Janeiro (8,4), Espírito Santo (6,6), Rio Grande do Norte (6,4), Minas Gerais (6,0), Ceará (5,9) e Sergipe (5,0).

Auxílio emergencial tem impacto no aumento da violência, diz professor da UFRN

Para o sociólogo Edmilson Lopes, que é professor e pró-reitor da Universidade Federal do Rio Grande do Norte (UFRN), o aumento da violência, mesmo em época de distanciamento social, precisa ser analisado de vários aspectos. “São três de caráter geral e três específicos, pontuais”, disse ele. “A expectativa de que teríamos uma diminuição significativa da violência com a quarentena, ela é irreal, ingênua. Todos nós sabemos que o isolamento social não foi praticado de forma uniforme pela sociedade brasileira. Ele foi mais efetivo da classe média para cima. Nas periferias, as pessoas continuaram a desenvolver suas atividades cotidianas, até empurradas pela necessidade da sobrevivência. Esse é um dado inegável que o jornalismo apontou: as pessoas continuaram indo para as ruas, nos seus bairros, nas favelas. E é essa a sociabilidade que em parte também alimenta a criminalidade, as mortes violentas, os homicídios. Talvez, quando nós desagregarmos os crimes, como roubos a automóveis, roubos a lojas comerciais, roubos a pessoas, talvez a gente tenha uma diminuição nestas modalidades, mas que não representam a violência em seu grau mais extremo, que é o da violência letal”, destacou.

A segunda observação, também de caráter geral, ainda de acordo com o professor, “é que no Rio Grande do Norte tem-se a mania de confrontar o que acontece aqui no estado com o que acontece no Brasil. A dinâmica no Rio Grande do Norte, ela é mais correta de analisarmos, se relacionarmos com a região Nordeste. No Nordeste, no final de 2020, teremos um total de homicídios maior que o total de 2019. E isso por causa do impacto do auxílio, esse benefício que é extremamente positivo, fundamental para a cidadania. Como tudo na vida, existe impacto para além daquele que nós esperamos, tem consequências além daquelas que comumente apostamos que vai ocorrer. Mais dinheiro circulando nas áreas periféricas, significa também maior possibilidade de crimes predatórios. Tanto de violência doméstica — brigas pelo gasto destes valores — quanto de possibilidades de consumo. Então, de certo forma, é inevitável que isso ocorra. E isso tem um impacto na violência, no aumento do número de homicídios”.

“A terceira de caráter geral é que temos a manutenção do padrão da violência letal, cujo instrumento fundamental é a arma de fogo. Então, no final do ano, também vamos ter um aumento do número de crimes por arma de fogo, pela facilidade de acesso a armas de fogo pela nova política que foi se instalando no país”, pontuou Edmilson.

Por fim, no caráter específico, Edmilson observa que “parece que estamos numa descida suave da criminalidade violenta na Grande Natal. É significativo isso, tendo em vista uma maior atuação da presença policial em municípios que por muitos anos impulsionaram a violência na região. Por outro lado, nos municípios do litoral Sul, observamos um grande crescimento significativo do casos de mortes, que eu não saberia agora dizer o que está acontecendo. Mas, não podemos dizer que é um caso isolado. É importante observar isso. E temos a região Oeste, Mossoró especificamente, que tem ocupado nos últimos 10 anos, pelo menos, o noticiário local e nacional como uma das cidades com as maiores taxas de homicídio. Precisamos chamar a atenção para Mossoró e para a região Oeste, onde temos a manutenção do mesmo padrão de violência de anos anteriores”, concluiu.

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djaildo

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